Discurso emocionante de Mauro Marcos da Silva comove Presidente Lula

Fotos: Hynara Versiani/TerritórioPress

12/06/2025 às 19h44

Reportagem Roberto Verona

 

Durante a cerimônia que marcou um novo capítulo no Acordo Rio Doce, realizado nesta quinta-feira, 12 de junho, em Mariana, o representante da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão, Mauro Marcos da Silva, emocionou a todos com uma fala que tocou profundamente os presentes, incluindo o próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Com um discurso carregado de história, emoção e uma luta incessante por justiça, Mauro iniciou sua fala com um respeito profundo pela audiência, mas com um toque de sinceridade que só quem vive a dor da perda pode entender. Ao cumprimentar o Presidente Lula e demais autoridades, ele destacou o papel fundamental da luta das vítimas da tragédia, especialmente as comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu e Mariana.

 

“Eu sou descendente de pessoas escravizadas, que com sangue, suor e lágrima, construíram a história de Bento Rodrigues, de Paracatu e de Mariana. Mas infelizmente, em um único segundo, minha história foi soterrada por 60 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração”, disse Mauro, com a voz embargada pela emoção.

 

 

Mauro fez questão de lembrar que, embora sua comunidade tenha sido devastada, a vida ainda persiste em Paracatu e ao longo da bacia do Rio Doce, lugares que ele se recusa a ver apagados. Ele aproveitou o momento para fazer um convite ao Presidente Lula: “Gostaria de convidá-lo para que o senhor regresse em breve para acompanhar a implantação dos projetos que estão sendo assinados e ver com seus próprios olhos que ainda há necessidade de preservação da nossa história, da nossa memória e do nosso pertencimento.”

 

O discurso de Mauro também abordou os desafios enfrentados pelas vítimas após a tragédia, com um foco particular na complexidade do Acordo de Reparação. Ele ressaltou as mais de 1.200 páginas do documento e os obstáculos que ainda existem para a implementação efetiva dos programas de reparação. Com um tom de urgência, ele fez uma crítica contundente ao que considera ser a inadequação da resposta oficial: “Quem tem fome, tem pressa. E há nove anos, sete meses e sete dias, estamos com fome e sede de justiça.”

 

Mauro também revelou a dor pessoal que carrega, ao recordar seu pai, que faleceu sem receber a reparação justa por suas perdas. “Eu trago aqui, vestido com o blazer do meu pai, que, infelizmente, faleceu no último dia 27 de maio, aos 91 anos, aguardando a justa reparação. Ele não teve o prazer de adentrar a casa do reassentamento de Bento Rodrigues e não teve a chance de receber a indenização que lhe era devida.”

 

A fala de Mauro Marcos da Silva tocou profundamente o Presidente Lula, que não conseguiu esconder a emoção diante da força das palavras e da luta de quem perdeu tanto, mas não perdeu a esperança por justiça.

 

Ao final de sua fala, Mauro fez um apelo por ética e justiça, destacando a diferença entre reparação e benefício: “Não nos recrimine por não aceitarmos os R$ 35 mil oferecidos aos atingidos diretos. Não aceitamos o que é insuficiente. Iremos continuar buscando a ética e a justiça, onde quer que elas estejam.”

 

Esse discurso, marcado pela sinceridade e pela luta incansável por dignidade, é um lembrete do que ainda está em jogo para milhares de vítimas da tragédia de Fundão, que continuam à espera de uma reparação justa e digna. Como disse Mauro, a batalha pela justiça não tem fronteiras, e ela continuará até que cada vida seja verdadeiramente reparada.

 


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