Duarte Júnior critica valor oferecido a Mariana na repactuação e defende aguardar julgamento na Inglaterra antes de assinar acordo

Foto:reprodução do Youtube Rádio Mariana

Em entrevista à rádio Mariana FM, ex-prefeito destaca que o município merece valor superior a R$ 4 bilhões e critica eficiência da Fundação Renova nas ações de reparação da tragédia de Fundão.

22/10/2024 às 21h14

Em entrevista concedida ao radialista Mateus Edson, da FM Mariana, na manhã dessa terça-feira (22), Duarte Júnior, ex-prefeito de Mariana, abordou o impacto e os desafios enfrentados após o rompimento da barragem de Fundão, ainda  discutiu a repactuação em curso para compensação e indenização, mencionando um acordo de cerca de R$ 167 bilhões entre a União, os Estados e outros envolvidos. Duarte também enfatizou a importância da ação legal que ele iniciou na Inglaterra contra a BHP, que, segundo ele, foi crucial para que as negociações no Brasil avançassem. Segue um breve resumo da entrevista focando o tema repactuação e Mariana.

 

Impacto do Rompimento da Barragem

  • Duarte relembra a tragédia de Fundão, mencionando os desafios enfrentados como prefeito de Mariana.
  • Principais dificuldades:
    • Desemprego atingiu 30%.
    • Necessidade de cortes no orçamento municipal e demissões.
  • Duarte expressou que, apesar das dificuldades, agiu com coerência e tomou decisões que permitiram o avanço das negociações de indenização.

 

Ação Judicial na Inglaterra

  • Duarte destacou a importância da ação movida contra a BHP na Inglaterra, afirmando que foi fundamental para pressionar a empresa e avançar nas negociações de repactuação.
  • A ação inclui mais de 40 municípios e impacta diretamente cerca de 700 mil pessoas.
  • Comentário sobre o julgamento na Inglaterra:
  • Ele enfatizou que a BHP está disposta a negociar para evitar um julgamento desfavorável na Inglaterra.

Repactuação e Valores

  • Valor total do acordo: Aproximadamente R$ 167 bilhões.
  • Para Mariana: O acordo prevê R$ 2,2 bilhões (R$ 1,2 bilhão para o município e R$ 1 bilhão para saúde).
  • Duarte acredita que Mariana tem direito a R$ 4 bilhões e critica o valor proposto, argumentando que o município foi o epicentro da tragédia.
  • Comparação com Brumadinho: Ele ressaltou que Brumadinho recebeu R$ 1,5 bilhão em compensações, e que Mariana deveria receber mais devido ao impacto maior da tragédia.

Perguntas do Jornalista Roberto Verona que participou remotamente

  • Primeira pergunta: Se a assinatura do acordo entre União e Estado anularia a ação em Londres.
    • Duarte respondeu que a assinatura do acordo não anula a ação em Londres, explicando que a questão está sendo julgada no STF, e a decisão pode impactar apenas os municípios, não as pessoas físicas ou empresas.
  • Segunda pergunta: Se Duarte presta serviço ao escritório de advocacia responsável pelo processo.
    • Duarte esclareceu que nunca prestou serviços ao escritório, nem à Fundação Renova, e que os boatos sobre seu envolvimento eram fake news.

      Terceira pergunta : Como Duarte avalia o papel da Fundação Renova até aqui?

  • Duarte afirmou que a Fundação Renova falhou em sua missão, apesar de algumas ações pontuais, como o aterro sanitário de Mariana e a revitalização de áreas urbanas, como a praça Gomes Freire.
  • Ele criticou o excesso de burocracia e a falta de execução de programas essenciais.

 

STF proibiu o pagamento de Honorários pelos municípios

Duarte Júnior na entrevista esclarece que as ações judiciais no Reino Unido e no Brasil podem coexistir, especialmente para pessoas físicas. Ele sublinha que a decisão do ministro Flávio Dino do STF não impede que pessoas físicas e outros sigam com suas ações na Inglaterra, preservando o direito de escolha. Essa é uma leitura correta do processo judicial, pois indivíduos podem optar por aguardar a decisão estrangeira ou aceitar os valores no Brasil. O ponto de conflito, no entanto, é em relação aos municípios. Duarte reitera que Flávio Dino foi "sensacional" ao afirmar que o município, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), não pode pagar os escritórios de advocacia contratados no exterior enquanto a decisão sobre esses honorários estiver suspensa. A sua posição é pragmática: se o escritório quiser continuar representando os municípios, deve fazê-lo sem a expectativa de pagamento imediato.

 

 Embora essa postura seja legalmente respaldada, ela também gera uma possível tensão com os escritórios de advocacia. Se a justiça inglesa for favorável aos municípios, mas os honorários estiverem suspensos, poderá haver dificuldades na continuidade da representação.

 

 

 

Duarte Júnior também menciona as falas de Celso Cota à radio Itatiaia OP, criticando o prefeito por sugerir uma suposta cobrança extra além dos 20% de honorários. Celso Cota, que aparentemente levantou a questão dos valores cobrados pelos escritórios de advocacia no exterior, foi classificado por Duarte como mal-informado ou "infeliz" na sua colocação. Segundo Duarte, a cobrança padrão é de 20%, e não há taxa extra, com a diferença de valor sendo atribuída à conversão da moeda, já que os valores na corte inglesa serão naturalmente mais altos devido à diferença cambial.

 

A condução de Celso Cota frente a repactuação

A entrevista de Duarte Júnior à rádio Mariana FM trouxe à tona uma disputa clara sobre a condução das negociações em torno da repactuação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. O ex-prefeito de Mariana não hesitou em criticar a atual gestão de Celso Cota, sugerindo que o valor defendido pelo atual prefeito está muito aquém do que a cidade merece, abrindo um debate sobre a postura de cada um frente a uma das maiores tragédias ambientais do país.

 

Celso Cota e a suposta subvalorização de Mariana

Duarte Júnior foi contundente ao mencionar que, sob a liderança de Celso Cota, Mariana estaria se preparando para aceitar um valor "irrisório" de R$ 1,2 bilhão, pago ao longo de 20 anos, o que representa, em sua visão, uma quantia incompatível com os danos sofridos pela cidade. “Mariana foi o epicentro dessa tragédia, não podemos aceitar menos que R$ 4 bilhões”, afirmou Duarte, apontando para o que ele considera ser uma falta de ambição da atual administração.

 

Essa crítica não é apenas uma divergência sobre números, mas também sobre postura política. Para Duarte, o fato de Mariana ter que lidar com valores reduzidos se deve, em grande parte, à ausência de uma negociação mais firme por parte de Cota. A fala de Duarte levanta questionamentos sobre a competência técnica e o engajamento do prefeito atual, sugerindo que a administração de Cota estaria conduzindo o processo de maneira passiva, o que poderia prejudicar o futuro financeiro do município.

 

O confronto sobre os estudos e o papel do Fórum de Prefeitos

Um ponto particularmente tenso na entrevista foi quando Duarte Júnior rebateu a fala de Celso Cota, na rádio Itatiaia OP que teria insinuado que os estudos do Fórum de Prefeitos, do qual Duarte é uma das principais lideranças, não teriam sido bem conduzidos. Duarte apresentou documentos, em detalhes, que mostram que Mariana tem direito a um valor muito maior do que o oferecido. “Está longe de ser o que ele apresentou. O documento que fizemos defende Mariana com R$ 3,4 bilhões”, disse Duarte, reforçando a ideia de que a gestão atual estaria subvalorizando a importância de Mariana nas negociações.

 

Ao exibir esses documentos durante a entrevista, Duarte não apenas protege sua reputação, mas também desafia diretamente a narrativa de Celso Cota. Essa exposição pública das divergências entre os dois reforça uma linha de continuidade entre a gestão de Duarte e suas propostas atuais, enquanto sugere que Cota pode estar enfraquecendo as perspectivas de reparação justa para Mariana.

 

Du critica à falta de diálogo e o isolamento político de Celso Cota

Duarte Júnior também mencionou a falta de abertura da gestão atual para o diálogo. Segundo ele, a ausência de um convite formal por parte de Celso Cota para que ele, Duarte, participasse das negociações em Brasília é um erro estratégico. "Eu teria muito a contribuir, mas se ele não me chamou, é porque acredita que está bem assessorado”, ironizou Duarte, sugerindo que a postura de Cota de evitar o diálogo com ele seria mais uma demonstração de fraqueza política do que de convicção.

 

Essa falta de cooperação entre gestões, muitas vezes, prejudica a continuidade de políticas públicas eficientes. A observação de Duarte à postura isolacionista de Cota aponta para um problema maior: a incapacidade de a administração atual reconhecer o valor da experiência e das contribuições de governos anteriores, especialmente em momentos de crise.

 

Para Duarte, a postura mais prudente seria aguardar os desdobramentos do julgamento na Inglaterra, onde as cifras em disputa são muito mais altas e poderiam garantir melhores condições para Mariana.

 

Foto Marília Mequita

Celso Cota responde as críticas de Duarte Junior

"Ao assumir a Prefeitura de Mariana, em agosto de 2023, apenas dei sequência as negociações já estabelecidas anteriormente. No entanto, como em todas as gestões em que estive como prefeito, o planejamento sempre foi uma guia para mim. Desta forma, não furtei em me reunir com a Fundação Renova, Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público Federal, Governo do Estado e Controladoria-Geral da União para conversar sobre o assunto e tive sim, a oportunidade de apresentar um diagnóstico com os impactos sociais que Mariana vem enfrentando, na Saúde, Educação, Mobilidade, Habitação, Meio Ambiente, Saneamento Básico, Esporte e Cultura. Dados impressionantes e que podem sim, garantir novos valores na repactuação". Enfatiza o prefeito Celso Cota.


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