Profissionais da saúde de Mariana têm se desdobrado para atender pacientes nessa epidemia de arboviroses

Fotos: Hynara Versiani

Com mais de 5 mil casos confirmados, ações incisivas e ampliação no atendimento 24 horas reforçam a luta contra a doença, destacando o empenho e dedicação dos médicos, enfermeiros e gestores.

09/04/2024 às 20h13

 

O período chuvoso e o calor que atingiram Mariana entre novembro e março trouxeram uma preocupação a mais para a população e para profissionais como médicas e enfermeiros: a epidemia de dengue. Segundo o último relatório divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, até a primeira semana de abril, o município registrou mais de 5.460 casos confirmados, com três pacientes internados, um óbito confirmado e um em investigação.

 

Além dos milhares de casos de dengue, outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti também foram registradas em Mariana. Até o início de abril, foram três casos confirmados de Chikungunya, e 38 suspeitos, e seis casos suspeitos de Zika Vírus, contra um caso descartado.

 

A Prefeitura de Mariana e a Secretaria de Saúde foram cobradas por ações eficazes que agissem contra a epidemia. Uma das estratégias adotadas foi o funcionamento 24 horas da Farmácia Central, localizada na policlínica da cidade, principal referência de saúde para a população. Além disso, Unidades Básicas de Saúde de bairros e distritos passaram a funcionar aos sábados.

 

A Farmácia Central é destinada à retirada de medicamentos pelos pacientes que realizaram consultas na policlínica, e com o atendimento 24h, evita-se que aqueles que foram atendidos aos sábados, domingos e durante a noite precisem retornar à unidade depois. O secretário de Saúde de Mariana, Leandro Ferreira, reforça a importância do funcionamento da Farmácia Central:

 

“Antes, a farmácia fechava aos sábados, deixando os pacientes sem acesso aos medicamentos até segunda-feira. Agora, com o serviço 24 horas, os pacientes podem retirar seus medicamentos tanto durante a madrugada de sábado quanto de domingo, garantindo tratamento adequado, especialmente para condições como dengue, que causam dor intensa e desidratação”.

 

Secretário de Saúde Leandro Ferreira.  Foto:Amanda de Paula Almeida/Agência Primaz

 

Conforme ressalta o secretário de Saúde, por conta da epidemia de dengue, o fluxo no local cresceu de uma média de 380 atendimentos por dia para 520, totalizando cerca de 15,6 mil atendimentos mensais. Em razão desse crescimento, a policlínica recebeu reformas e reparos em sua estrutura — banheiros, substituição de pisos, manutenção das portas, telhados e parte elétrica —, sem interromper o fluxo na unidade.

 

Leandro Ferreira relembra que o trabalho de prevenção à dengue é contínuo e que não começou apenas com o decreto de emergência em saúde pública, em fevereiro. “A gente já faz um trabalho anual. No ano passado, começamos com um mutirão em todos os bairros, com retirada dos focos do mosquito. Fizemos visitas com nossos agentes de combate à endemia em todos os bairros e intensificamos as ações com a chegada do período propício para as arboviroses”, declara.

 

O secretário também destaca o uso do fumacê, iniciado pela Prefeitura no último dia 28 de março. Ele explica o funcionamento desse modo de combate ao mosquito-da-dengue: “O fumacê é uma medida eficaz, mas precisa ser aplicado de forma consciente. Ele mata o mosquito adulto, mas não afeta os ovos ou larvas. Além disso, é importante que as pessoas compreendam que sua aplicação não pode ser contínua, para evitar problemas ambientais e de resistência dos mosquitos”.

 

Policlínica na epidemia

O coordenador da policlínica de Mariana, Elton Magno, ressalta os esforços para adaptar a infraestrutura da unidade às necessidades decorrentes da epidemia. Embora a policlínica opere 24 horas, o alto volume de pacientes afetou a capacidade de atendimento, exigindo medidas como a ampliação dessas áreas. Segundo Elton, foram implementadas estratégias para expandir a capacidade de atendimento, incluindo o reforço na recepção e na sala de soroterapia. 

 

Enfermeiro Elton Magno gestor da Policlínica Dr.Elias Mansur

 

No entanto, o maior desafio enfrentado pela equipe foi orientar a população sobre a utilização correta dos serviços de saúde, buscando descentralizar o atendimento. “Lidamos com a superlotação e a impaciência da população, que muitas vezes quer ser atendida imediatamente. Para lidar com isso, utilizamos o Protocolo de Manchester, que classifica os pacientes de acordo com a gravidade de seus sintomas, priorizando aqueles com maior risco”, explica o coordenador.

 

Ele afirma que é preciso considerar que parte da lotação vista na unidade de saúde é por conta dos acompanhantes, visto que um paciente normalmente chega à policlínica com dois ou mais familiares, ou amigos. Elton também aponta que 70% dos atendidos apresentam sintomas leves, e que poderiam ser atendidos nas UBSs, e por conta do protocolo, não são prioritários no atendimento.

 

Apesar das dificuldades e das críticas recebidas nas redes sociais, Elton acredita o trabalho dos profissionais tem sido bem avaliado pela população, pois a quantidade de críticas é baixa quando comparada ao número de atendimentos mensais. Por fim, o gestor enfatizou a importância da colaboração da população no combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor das arboviroses, e recomendou paciência e compreensão com a equipe de saúde diante da sobrecarga enfrentada.

 

A médica Ana Flávia Diniz, que atende em Mariana há três anos, também fala sobre os desafios enfrentados em relação à epidemia de dengue. “Tem sido um desafio, pois a estrutura é limitada em relação à quantidade de pacientes. A maioria dos casos é leve, mas ainda assim, estamos atendendo mais do que a capacidade ideal”, compartilha.

 

Ana Flávia Diniz médica.

Ela reforça a necessidade que os pacientes procurem as UBSs para o tratamento, evitando a automedicação e o uso de anti-inflamatórios, que podem causar complicações na doença. Ana Flávia desataca que a conscientização pública é fundamental para a prevenção das arboviroses. “É fundamental informar as pessoas sobre a prevenção. A prevenção é possível, e medidas simples, como eliminar água parada e usar repelente, podem fazer uma grande diferença”, diz.

 

Paulo César Ramos, 19 anos, compartilhou sua experiência no tratamento da arbovirose, destacando a eficácia do atendimento médico na policlínica. “Acredito que o tratamento foi adequado, após me receitarem uma dose de dipirona intravenosa minha febre baixou e as dores no corpo foram diminuindo”. Além disso, o jovem elogia a disponibilidade do atendimento 24 horas:

“Cheguei lá às 00h30 e saí por volta das 03h15, houve um pouco de lentidão no atendimento, mas é importante ter essa disponibilidade para qualquer emergência médica”.

 

Ivane Souza, 53 anos, atendida na policlínica enquanto estava com dengue, descreve sua experiência como positiva, especialmente em relação à atenção dos profissionais de saúde. Ela conta que recebeu apoio adequado da equipe durante seu processo de recuperação. Ela relatou: “Foi muito boa, os médicos são atenciosos, me passou logo o teste e depois os medicamentos, soro, dipirona”.

 

Os mais de cinco mil casos de dengue em Mariana geram preocupação na população, nos profissionais de saúde, mas também nas autoridades do município. O prefeito de Mariana, Celso Cota (PSDB) fala sobre a preocupação com as arboviroses, mas também ressalta a atuação dos médicos, enfermeiros e dos gestores em saúde:

“Estamos vivendo um momento muito delicado de saúde pública, que não é algo pontual em Mariana, mas uma epidemia em toda Minas Gerais. A atuação dos nossos profissionais tem sido exemplar, de muito trabalho e empatia para com a população”, declara o prefeito.

Reportagem :João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani

Nota da redação: A entrevista com o então Secretário de Saúde, Leandro Ferreira, foi realizada no dia 4 de abril. Nessa data, Leandro ainda não havia sido exonerado.


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