Ouro Preto enfrenta desafios persistentes no abastecimento de água e tratamento de esgoto. Nos últimos anos, os serviços têm avançado, mas ainda existem dificuldades para que toda a população seja atendida. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 89,28% dos domicílios recebem água encanada, enquanto apenas 77,49% estão conectados à rede geral de esgoto.
Os serviços de distribuição de água e esgotamento sanitário de Ouro Preto foram assumidos pela Saneouro em janeiro de 2020, substituindo o antigo Serviço Municipal de Água e Esgoto (SEMAE). A concessão foi cedida à empresa, que tem a missão de melhorar as condições de saneamento básico, fazendo-o chegar à população da sede e de 12 distritos. No entanto, há ainda áreas não atendidas e desafios a serem superados para garantir acesso pleno aos serviços.
De acordo o superintendente da Saneouro, Evaristo Bellini, o serviço que apresentou o maior avanço foi o tratamento de esgoto. “Ouro Preto tem uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em operação, localizada no distrito de São Bartolomeu. O tratamento correspondia a 0,67% de todo o esgoto coletado no município. Esta foi a situação em que a Saneouro recebeu o tratamento de esgoto no município”, afirma.
Hoje, conforme a empresa, 83,74% do esgoto coletado. O superintendente diz que o objetivo da Saneouro é atender aos indicadores contratuais com o município e ao Marco Legal do Saneamento, que preveem que, até 31 de dezembro de 2033, 90% da população de todos os municípios seja atendida com serviços de coleta e tratamento de esgoto.
Apesar dos avanços, o atendimento não chega da mesma forma às periferias e distritos. Uma moradora da região central da cidade, que prefere não se identificar, destaca a relativa estabilidade no abastecimento de água, mas aponta problemas recorrentes, como vazamentos de esgoto nas ruas. Segundo ela, “vira e mexe, aqui no centro histórico tem, por exemplo, bueiro estourado, tem sempre uma água vazando no meio da rua, um cano que rompe, e demora dias e dias para consertar”.
O engenheiro civil Eduardo Evangelista, mais conhecido como Du da “Mina Du Veloso”, é residente em região periférica, e enfatiza as dificuldades enfrentadas nessas áreas, onde o acesso à rede de esgoto é mais limitado e os problemas de falta d’água são mais comuns. “Muitas áreas estão fora da cobertura da concessão, resultando em falta de abastecimento de água e tratamento de esgoto”, diz.
Ele pontua que áreas como o Botafogo e regiões nos distritos de Amarantina e Cachoeira do Campo lidam com problemas frequentes nos serviços, e faz uma crítica à empresa. “Essas comunidades enfrentam problemas de falta de água e ausência de saneamento devido à concessão inadequada. A empresa tem focado mais na instalação de hidrômetros e cobranças do que no tratamento de esgoto. Muitas áreas ainda despejam esgoto diretamente nos rios”, declara.
O presidente da Associação de Moradores do distrito de Antônio Pereira, Wemerson Rodrigues, relata que a população da localidade tem enfrentado longos períodos de falta d’água. “A situação de abastecimento de água aqui é preocupante. Temos enfrentado frequentes cortes no fornecimento, resultando em longos períodos de escassez. Além disso, a qualidade da água deixa muito a desejar, com relatos de coloração e cheiro inadequados em muitas ocasiões.”
Wemerson também conta que os principais desafios enfrentados pela população em relação ao abastecimento são causados pela falta infraestrutura. “Os principais desafios que enfrentamos estão relacionados à infraestrutura precária e à falta de investimento em sistemas de abastecimento adequados. A região carece de infraestrutura para garantir um abastecimento regular e de qualidade para todos os moradores”, diz.
O esgotamento sanitário também é um problema para a população de Antônio Pereira. Para o presidente da Associação de Moradores, o serviço prestado até então é insatisfatório: “Muitas residências não têm acesso a sistemas de esgoto adequados, resultando em esgoto a céu aberto, representando um sério risco para a saúde pública e o meio ambiente. Os moradores estão extremamente insatisfeitos com essa situação”.
O que diz a Saneouro?
O superintendente da Saneouro, Evaristo Bellini, reconhece os desafios enfrentados em Ouro Preto, destacando o compromisso da empresa em atender às metas estabelecidas pela Prefeitura Municipal e pelo Marco Legal do Saneamento. Ele ressalta: “A estratégia da Saneouro é atender aos requisitos do contrato com a Prefeitura Municipal de Ouro Preto, assim como ao Marco Legal do Saneamento”.
A empresa obteve junto à Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram-MG) o licenciamento para a construção da Estação de Produção de Água de Reúso Osso de Boi, com um investimento total de R$ 40 milhões. Na estação será tratado 100% do esgoto coletado da sede do municipio. A expectativa é que as obras durem 18 meses.
Para permitir que o tratamento de esgoto chegue aos distritos, o superintendente afirma que a empresa busca soluções específicas para cada localidade. “A Saneouro trabalha para definir os melhores projetos e tecnologias de tratamento de esgoto para atender às especificidades de cada um dos 11 distritos que ainda não têm ETE. O projeto para Cachoeira do Campo, por exemplo, está adiantado e deve ser anunciado em breve”, reforça.
Por outro lado, Bellini revela que a expansão da cobertura da rede de esgoto enfrenta desafios, como a complexidade do terreno e a resistência da população, como nos distritos de Antônio Pereira, Rodrigo Silva, Santo Antônio do Salto e dos subdistritos de Bocaina e Chapada de Lavras Novas. “O grande entrave tem sido a resistência da própria população, que muitas vezes diz que não aceita pagar pela água e que não precisa dos serviços da Saneouro”.
Outro problema para garantir o tratamento do esgoto e o abastecimento são as antigas tubulações da cidade, que despejam o esgoto direto no curso d’água. “Para evitar o despejo inadequado de esgoto nos cursos d’água, é necessária a implantação de sistemas de tratamento adequados. A empresa está comprometida em cumprir os padrões ambientais e em proteger os recursos naturais da região” explica Evaristo Bellini.
Reportagem :João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
