Nascido em Felipe dos Santos, no interior de Minas, e criado em Mariana, onde passou toda a vida, Hélio Petrus – que chegou a ser prefeito da cidade histórica – diz que seu interesse pelo barroco mineiro vem do ambiente que o cerca. Completando 80 anos de vida e 55 de trajetória artística, ele ganha sua primeira exposição na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes, aberta ao público a partir desta quarta-feira (22/3).
“Contínuo barroco” traz 32 esculturas e talhas policromadas em madeira. A exposição reúne imagens de Nossa Senhora da Conceição, São Francisco, Santo Antônio, São José, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora do Carmo, Santana Mestra e São Miguel Arcanjo, além de anjos e outras figuras sacras.
Petrus afirma que o trabalho em exposição no Palácio das Artes é fruto de uma longa caminhada. Ele diz que, nos primeiros 20 anos de atividade artística, trabalhou sozinho, em busca de aperfeiçoar sua obra e criar uma identidade própria.
“Foi uma experiência gratificante e sofrida, porque não tive um mestre que pudesse me orientar. Eu criava com base em estudos que fazia a partir da observação. Meus primeiros trabalhos não tinham nada a ver com o barroco, eram esboços, sem o esmero e o acabamento que têm hoje”, destaca.
O salto de qualidade da produção foi possível a partir do momento em que ele começou a dividir o trabalho em seu ateliê em Mariana com jovens talentos locais.
“Quando decidi realizar um trabalho mais voltado para o barroco mesmo, que exigia mais calma, resolvi fazer essa experiência, comecei a trazer jovens talentosos para o meu ateliê. Eles me ajudaram a construir as obras com mais calma”, conta o artista.
Dedicando-se de maneira exclusiva à iconografia religiosa, Petrus procurou se aproximar tecnicamente dos mestres mineiros e europeus, estudando fraturas, cortes e expressões nas obras dos grandes nomes do barroco.
“Ao longo desses 55 anos, pude reunir o acervo de obras que estou apresentando agora, uma seleção das melhores, com a ajuda do curador”, diz, referindo-se ao artista gráfico e designer Flávio Vignoli, também responsável pela montagem.
“Pensei a expografia a partir da dramaticidade do tema, que vem do neobarroco, do pós-barroco, desse contínuo barroco. As peças em exibição terão um modo de iluminação que vai levar um pouco mais de sombra ao olhar, à contemplação das obras. Trabalhei a luz dentro de uma perspectiva mais teatral. Queremos trazer a mineiridade para a exposição, criar uma mostra sensorial para o público”, destaca Vignoli.
Petrus diz ter gostado muito da proposta de se trabalhar com ambiência mais teatral.
“Confesso que nunca tinha me ocorrido tal ideia, mas o Flávio, com o jogo de luz e sombra na madeira, consegue aproveitar os relevos e valorizar os elementos das esculturas. A ambientação também é composta por canções barrocas de grandes musicistas do século 18, cujas partituras pertencem ao Museu da Música de Mariana”, ressalta o artista.
O conjunto de obras que compõem “Contínuo barroco” alia tradição e contemporaneidade, na medida em que parte de um estilo consagrado, mas busca novos caminhos e outras referências, segundo o artista.
O trabalho de Petrus se distancia da densidade e dualidade dramática do barroco, e encontra no rococó uma marca pessoal – com leveza e refletindo o novo, apesar da forte inspiração no passado.
“Embora meu trabalho seja de inspiração barroca, eu não tenho a pretensão de copiar o que se fazia nos séculos 17 e 18, com figuras que apresentam situações mais dramáticas. Os santos tinham todos um aspecto muito sofrido. Procuro fazer releitura mais atual, destacando, por exemplo, o São Francisco da ecologia, amigo dos pássaros; os anjinhos sorridentes; as madonas mais luminosas. É o que chamam por aí de neobarroco, uma releitura”, explica.
A longa trajetória artística e a produção sistemática e aplicada fizeram com que a obra de Petrus tivesse alcance global. Ele observa que Mariana é cidade histórica e, por isso, recebe visitantes de várias partes do mundo.
“O Papa Francisco foi presenteado com uma escultura minha quando veio ao Brasil. Também fiz uma peça, a ‘Madona de cedro’, para o seriado de mesmo nome exibido pela Rede Globo”, comenta.
O escultor diz ter peças espalhadas por acervos de diversos colecionadores no Brasil e no mundo. “Um deles é o padre Fábio de Melo. Fiz a capela particular dele em Taubaté (SP) e, desde que conhece meu trabalho, ele faz muitas referências a mim”, destaca, celebrando o momento de sua carreira.
“Considero essa mostra o coroamento de todo o meu trabalho. Agora, com 80 anos, estou passando o formão para meus ajudantes mais talentosos”, finaliza Petrus.
Esculturas de Hélio Petrus.Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Até 21 de maio. De terça a sábado, das 12h às 21h, e aos domingos, das 17h às 20h. Entrada franca. Informações: (31) 3236-7400.
Com informações de Estado de Minas