Servidores em greve trancam portões e alunos do IFMG Ouro Preto acionam PM


10/06/2022 às 19h32

O 25º dia de greve dos servidores do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), coordenada pelo sindicato SINASEFE IFMG, acabou virando caso de polícia no campus de Ouro Preto, cidade da Região Central de Minas Gerais. Os alunos do instituto acionaram a Polícia Militar (PM), na manhã desta sexta-feira (10/6), para que pudessem entrar no campus, fechado pelos grevistas.

Todos os 18 campi do Instituto Federal de Minas Gerais estão mobilizados, sendo que oito deles estão com calendários acadêmicos suspensos: Congonhas, Ibirité, Santa Luzia, Itabirito, Piumhi, Governador Valadares, Sabará e Ouro Branco. Em Ouro Preto, os alunos e a diretoria do IFMG foram surpreendidos ao chegarem para as aulas desta sexta-feira e encontrarem os portões do instituto trancados.

Impedidos de entrarem no Campus Ouro Preto para terem suas aulas, os alunos recorreram à Polícia Militar para liberação dos portões. De acordo com os estudantes, eles não são contrários à greve e estão apoiando os servidores, mas que querem que esta seja feita sem a suspensão do calendário, pois isso causaria uma defasagem de ensino ainda maior aos discentes.

Para os alunos, ficar mais tempo sem aula seria de grande prejuízo, já que estes vêm de um período de dois anos entre paralisação das atividades e ensino remoto, causadas pela pandemia de COVID-19.

 Os estudantes dizem entender que há um sucateamento da educação no país e que a luta contra isso é válida, mas que acreditam que este não é o momento de impedir que os alunos tenham suas aulas.

 O Estado de Minas entrou em contato com o grupo de estudantes que fez parte da manifestação contrária ao fechamento do Campus e eles emitiram comunicado, onde declararam surpresa com a ação e, apesar de afirmarem concordar com os motivos da greve, não acreditam que a suspensão do calendário acadêmico seja a melhor escolha.

 “Nós, estudantes técnicos do IFMG Ouro Preto fomos surpreendidos com a ação que ocorreu hoje, organizada pelo Comando de Greve do sindicato do IFMG, de paralisação do Campus. A greve em si possui ótimos motivos, os técnicos precisam dos reajustes e é inadmissível os cortes orçamentários que ocorrem com a educação. Mas nós, discentes do campus Ouro Preto, acreditamos que o momento é atípico e ineficiente para que ocorra tal suspensão do calendário acadêmico. E a revolta de hoje foi justamente contra a suspensão desse calendário e contra esse ocorrido que prejudicou discentes e docentes de toda instituição. As autoridades foram acionadas para uma prevenção de algo maior, pois estávamos sendo impedidos de adentrar ao Campus, as chaves dos pavilhões ficaram na mão dos grevistas. Conversamos com a linha de frente do ato, mas não chegamos em nenhum acordo. Reivindicamos nosso direito de estudar depois de dois anos em um momento tão atípico e estressante, hoje, nosso direito de falar fora tomado, mas não ocorrerá mais repressões.”

 Durante o tempo em que ficaram fora do campus, os alunos confeccionaram cartazes com frases como “Não somos contra os professores, mas contra a greve!” e “Tira a mão do meu IF”.

Mesmo com a PM presente na portaria do Campus, O IFMG Campus Ouro Preto informou que, em razão da “tensão institucional”, os alunos foram dispensados das aulas de hoje (10/6), mas que para a segunda-feira (13/6), as aulas estão mantidas e que “o calendário continua válido e as aulas, bem como as atividades administrativas daqueles servidores que não aderiram à greve serão mantidas”.

Posicionamento do IFMG Ouro Preto

O IFMG Campus Ouro Preto divulgou comunicado direcionado a alunos e servidores do instituto, onde a Direção-Geral e as Diretorias Sistêmicas se disseram surpresas com o fechamento das portarias do Campus.

 “Hoje, dia 10 de junho de 2022, fomos (servidores, alunos, prestadores de serviço) surpreendidos com o fechamento das portarias do Campus pelo Comando de Greve. A ação foi surpresa para a Direção - que vinha dialogando com o Comando de Greve, assim como para toda a comunidade. Na oportunidade, tomamos as medidas que estavam ao nosso alcance para contornar a situação, em especial com os alunos”.

A Direção-Geral informou também que irá se reunir com o comando da greve ainda hoje (10/6). Para ler o comunicado na íntegra, clique aqui.

A greve

A greve dos servidores do IFMG foi deflagrada no dia 16/05 e aderida por todos os Campus. O movimento grevista reivindica reposição salarial de 19,99% para os funcionários públicos e aumento no investimento contínuo na educação, ciência e tecnologia pelo Governo Federal. De acordo com os grevistas, os técnicos administrativos já estão há quase 8 anos com os salários congelados, enquanto os docentes estão há 5 anos sem reajuste salarial.

 

Outra exigência do movimento é a revogação da Emenda Constitucional 95 – que institui o teto de gastos –; o arquivamento da PEC 32 – que instaura a reforma administrativa.

Em 2022, o Governo Federal determinou o corte de R$ 3,23 bilhões do orçamento do MEC, o que impacta diretamente nas instituições federais, como é o caso do IFMG e das universidades. O Planalto afirma que os cortes são necessários para custeio de reajuste de 5% nos salários pagos ao funcionalismo público.

Movimento grevista emite comunicado

O Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica – Seção Sindical IFMG (Sinasefe IFMG), emitiu comunicado falando do fechamento do IFMG Campus Ouro Preto. Nele, os sindicalistas afirmam que o fechamento hoje é para não haver um fechamento futuro, de forma definitiva.

 

“Infelizmente, a despeito de todo empenho daqueles que imputaram e imputam a esta instituição o seu devido valor, a antiga ETFOP, agora Campus do IFMG, segue à míngua. Em razão da arbitrária redução de código de vagas, o número de servidores é insuficiente para continuar a oferecer à comunidade escolar formação de qualidade, marca da longa e admirável trajetória desta instituição. Agrava essa situação a aplicação da Emenda Constitucional 95, que impõe a derrocada do serviço público, inviabilizando, frente aos sucessivos cortes orçamentários, a manutenção da qualidade dos serviços prestados. A assistência estudantil, diante dos reduzidíssimos recursos, obriga-se a selecionar os vulneráveis dentre os vulneráveis. Essa realidade nos impõe a necessidade da luta por direitos até aqui ameaçados, antes que outros tantos sejam extintos. Diante de um projeto de desmonte da rede federal de ensino não podemos ser flexíveis. Ou lutamos ou sucumbimos. Decidimos lutar. (...) Fechamos hoje para não fecharmos amanhã, de forma definitiva.”, diz trecho da nota.


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