A primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Mundial ganha novo equipamento cultural para valorizar ainda mais seu conjunto barroco. Será inaugurado em 13 de abril, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, o Museu Boulieu, exibindo a coleção com mais de mil peças doada pelo casal franco-brasileiro Maria Helena e Jacques Boulieu.
Localizado no principal acesso ao Centro Histórico de Ouro Preto, o Museu Boulieu ocupa as instalações do antigo Asilo São Vicente de Paulo. No total, o espaço compreende quase 400 metros quadrados para exposição no pavimento superior (seis salas) e tem, no térreo, saguão de entrada, bilheteria, café/loja, sala multiuso, sala do Educativo, áreas administrativas e reserva técnica.
Com patrocínio integral do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e projeto de restauração e expografia assinados pelo Instituto Pedra, o novo equipamento cultural, segundo os organizadores, contribui para reafirmar Ouro Preto como o epicentro da arte barroca brasileira, sugerindo novas perspectivas e novos contextos ao movimento artístico.
Em nota, o Instituto Pedra informa que o museu assume a função pública de preservar, investigar e expor a coleção doada pelo casal Jacques e Maria Helena Boulieu, que reúne principalmente obras de origem asiática e latino-americana, principalmente do período barroco. “O Museu Boulieu se pauta pelos encontros, desde o do casal até aqueles acarretados pelas grandes navegações europeias. Daí, a propagação da fé e dos impérios. O sincretismo religioso e as diversas culturas nos apontam outros caminhos e olhares”, destaca o diretor-presidente do Instituto Pedra, Luiz Fernando de Almeida.
Com curadoria do prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, o equipamento apresentará 1.050 peças das 2,5 mil da Coleção Boulieu, entre esculturas, pinturas, objetos e mobiliário, além de duas obras cedidas temporariamente pela Coleção Ivani e Jorge Yunes, inaugurando o Programa “Acervos em Diálogo”. Ao percorrer as salas, será possível conhecer alguns dos desdobramentos do Barroco pelo trajeto histórico-poético proposto pelo curador, em temas: A fé e o império conquistam o mar; O mundo encantado das Índias; Americanos de Norte a Sul sob o sinal da cruz; O brilho dos metais e a luz da religião; A América hispânica e o esplendor do culto; Os engenhos da arte no Brasil açucareiro; A palma barroca na mão do povo; O eldorado no coração da grande floresta; Esfera da opulência e teatro da religião.
No saguão, o visitante poderá conhecer um pouco da história do casal Boulieu e a origem da coleção. No piso superior, na entrada do percurso expositivo, o visitante será recebido pela voz da cantora Maria Bethânia, embalando poemas de Fernando Pessoa e Camões, e imagens que introduzem o novo caminho para as Índias, onde com novos materiais e nova iconografia, o mundo ocidental se encontra e dialoga culturalmente com as tradições milenares locais.
Completa a programação de abertura do novo espaço, a mostra temporária Aleijadinho – fotografias de Horacio Coppola Aleijadinho - fotografias de Horacio Coppola, realizada em parceria com o Instituto Moreira Salles. O conjunto de fotografias retrata as obras do escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), a partir da viagem feita por Coppola a Minas Gerais em 1945.
O Museu Boulieu é um museu privado localizado à rua Padre Rolim, 412, no Centro Histórico de Ouro Preto e fica no edifício em que funcionou o antigo Asilo São Vicente de Paulo e em uma edificação anexa em que funcionou a antiga “casa do capelão”. A origem do conjunto de edifícios remonta ao final do século 18, mas o imóvel que abriga o museu foi construído em 1932 pelos vicentinos, para ser usado como asilo, função que cumpriu até a transferência do complexo hospitalar para o Bairro da Bauxita, no final dos anos 2000.
Para efetivar a criação do museu, em 2008 o Instituto Cultural Brasileiro do Divino Espírito Santo (ICBDES), atual Instituto Boulieu, foi criado como personalidade jurídica responsável pelo Museu Boulieu. Em 2012, foi então estabelecido um comodato em que o edifício teve o uso cedido pela Prefeitura de Ouro Preto para a criação do museu.
Conforme o Estado de Minas divulgou em muitas matérias, o casal de colecionadores Jacques e Maria Helena Boulieu (ela, paulista criada em Belo Horizonte) reuniu cerca de 2,5 mil peças, sendo a maior parte de arte sacra. Parte da coleção foi doada, em 2011, à Arquidiocese de Mariana, atual donatária-proprietária do acervo. Segundo a Escritura Pública de Doação trata-se de “transferência de propriedade e posse, os bens doados são bens fora de comércio, e que devem ser permanentemente expostos no Museu Boulieu”.
Em 2021, o casal doou mais um lote de peças ao museu. Nesse novo lote foram doadas além de esculturas e pinturas de temática religiosa, peças utilitárias, como mobiliário, utensílios domésticos de prataria inglesa e latino-americana, vasos de cerâmica, tecidos andinos, gravuras, fragmentos de entalhes, e há também um pequeno conjunto de peças arqueológicas pré-colombianas. No caso dos Boulieu a coleção é fruto, sobretudo, de um gosto do casal pela prataria e arte sacra barroca, devido à sua religiosidade.
Tendo vivido boa parte de suas vidas entre o Brasil e a França, o casal decidiu doar sua coleção para a criação de um museu em Ouro Preto, devido a seu apreço pela cidade, bem como sua intenção em deixar esse legado como parte do patrimônio local, que com este acervo ganhará uma visão internacional do Barroco.
A abertura do Museu Boulieu ao público será a partir de 14 de abril, às 10h.