O Relatório de Consolidação de Estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana (ARSH) relativo aos estudos realizados pelas empresas Ambios e Tecnohidro em áreas rurais dos municípios de Mariana e Barra Longa (MG) não recomenda limitação de atividades agropecuárias ou de consumo de água (desde que tratada) nem remoção de moradores. Não há metais, decorrentes do rompimento da Barragem de Fundão, que representem risco toxicológico à saúde humana nas áreas de influência.
A ARSH foi realizada para avaliar se há riscos à saúde humana em áreas desses municípios por onde passou o rejeito, em novembro de 2015.
Em 4% das amostras coletadas nas áreas avaliadas pelo relatório foram registradas concentrações de metais acima dos valores de referência de saúde, exceto para amostras de Ferro, sendo que, na maioria das vezes, estão localizadas fora da área impactada pelos rejeitos. O relatório identificou oito metais com doses de exposição acima dos valores de referência de saúde.
A partir das conclusões do relatório, ao longo de 2020 serão desenvolvidas iniciativas definidas juntamente ao governo de Minas Gerais e aos municípios, para aprofundar o entendimento desses valores acima da referência.
Para a realização do relatório, considerando as áreas analisadas, foram recolhidas 103 e 370 amostras pela Ambios e Tecnohidro, respectivamente, na calha do rio, água superficial, água para consumo humano, solo, poeira domiciliar, alimentos de origem vegetal e animal. As coletas foram realizadas entre julho de 2018 e agosto de 2019.
Apenas dois dos metais encontrados em doses de exposição acima dos valores de referência de saúde têm relação com o rompimento: ferro e manganês. Os demais – cobre, cobalto, selênio, cádmio, arsênio e alumínio – são metais encontrados da região, localizada no Quadrilátero Ferrífero. O cádmio é um elemento também presente em fertilizantes agrícolas. O arsênio foi encontrado em duas amostras (frutas e tubérculos), fora da área atingida pelo rompimento.
A relação é a seguinte:
·Ferro: no sedimento, no solo e na poeira domiciliar, em 41 amostras
·Manganês: no sedimento e no solo, em 8 amostras
·Cádmio: no solo e na poeira domiciliar, em 3 amostras
·Alumínio: no solo, em 2 amostras
·Cobalto: no solo, em 2 amostras
·Arsênio: em frutas e tubérculos, em 2 amostras
·Cobre: na poeira domiciliar, em 1 amostra
·Selênio: alimento vegetal (ovo), em 1 amostra
Os metais identificados são elementos de baixa absorção pela pele. Muitos desses metais são essenciais para o nosso organismo e exigem doses de exposição muito elevadas na forma absorvível para que possam causar problemas de saúde.
Os estudos foram submetidos a processos de checagem, para certificação do cumprimento das normas técnicas e controle de qualidade. O trabalho foi realizado pela empresa NewFields, responsável pelo Relatório de Consolidação.
Água
Nas águas superficiais e na água usada para o consumo, não foram identificadas concentrações acima dos valores de referência de saúde. Portanto, o relatório não recomenda limitação do consumo de água tratada. De acordo com resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), a água pode ser utilizada para a dessedentação animal e irrigação de plantações.
Assistência aos atingidos
Atualmente, mais de 70 profissionais – entre médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos – contratados pela Fundação Renova atuam em Mariana e Barra Longa. A assistência às pessoas atingidas foi iniciada imediatamente após o rompimento da barragem de Fundão, tendo como premissa a garantia dos direitos humanos básicos – acesso a primeiros socorros, apoio e atendimento psicológico aos familiares das vítimas e de pessoas desaparecidas, acesso à informação, à água potável, à moradia e à alimentação adequada.
Tão logo o plano de ação do município de Barra Longa esteja finalizado, um acordo será celebrado entre a Fundação Renova e o município para outras iniciativas de complementação das ações do SUS para atender aos atingidos.
A Fundação Renova também é responsável pela construção de um espaço para atendimento de saúde mental para crianças e jovens e de unidades de saúde que foram destruídas. Passado o período emergencial, os esforços das áreas de Saúde e de Proteção Social foram concentrados no apoio à gestão pública dos municípios, com ações para fortalecer as estruturas municipais existentes tanto no atendimento clínico como na proteção social.
Ações nos municípios
Além das ações já desenvolvidas desde o rompimento da barragem, serão disponibilizados recursos para implementar as seguintes ações em Mariana e Barra Longa:
Fundação Renova e Governo do Estado de Minas Gerais avaliam ainda possíveis ações
Além das ações de apoio direto aos serviços de saúde dos municípios de Mariana e Barra Longa, a Renova está discutindo propostas para fortalecer o atendimento a demandas sobre toxicologia com o Governo do Estado de MG. Na pauta estão iniciativas como a melhoria dos laboratórios públicos regionais, capacitação de profissionais de saúde dos municípios atingidos, a revisão do protocolo de avaliação toxicológica para metais e a implementação de um plano de monitoramento e reabilitação ambiental. Além disso, está em discussão também na Câmara Técnica de Saúde a realização de estudos adicionais para aprofundar as análises em Mariana e Barra Longa.
FOTO: GUSTAVO BAXTER / NITRO