Tom Goodhead, que representa mais de 600 mil atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, deixa liderança de escritório em meio a crise com investidores internacionais.
O advogado britânico Tom Goodhead, conhecido por representar mais de 600 mil vítimas da tragédia em Mariana (MG), foi afastado da liderança do escritório Pogust Goodhead, em Londres. A mudança ocorre em um momento delicado, com desentendimentos internos e questionamentos sobre a atuação dos escritórios que representam os atingidos.
Goodhead é um dos principais nomes por trás de uma ação bilionária contra a mineradora BHP, que é uma das donas da Samarco, empresa responsável pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015. A tragédia matou 19 pessoas, destruiu comunidades inteiras e causou danos ambientais que ainda afetam a região da Bacia do Rio Doce.
Quem assume o comando interino do escritório é a advogada Alicia Alinia, até então diretora de operações. A troca na liderança faz parte de uma reestruturação interna, que também trouxe novos nomes para o conselho do escritório.
Justiça suspende cláusulas abusivas em contratos com atingidos
Além da crise interna, os escritórios que atuam na defesa dos atingidos enfrentam pressões no Brasil. Uma decisão da Justiça Federal em Minas Gerais determinou a suspensão de cláusulas consideradas abusivas nos contratos firmados com vítimas da tragédia.
De acordo com a decisão da 13ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte, foram suspensas cláusulas que previam a cobrança de honorários sobre indenizações já recebidas no Brasil, a obrigatoriedade de foro estrangeiro (fora do país) e restrições ao direito dos atingidos de fazer acordos ou desistirem da ação. A liminar foi concedida após ação do Ministério Público Federal (MPF), que considerou essas práticas prejudiciais aos direitos das vítimas.
A decisão atinge diretamente os escritórios Felipe Hotta Sociedade Individual de Advocacia, no Brasil, e Pogust Goodhead, no Reino Unido, que atuam de forma conjunta nos processos internacionais. A liminar ainda cabe recurso.
E agora?
O processo contra a BHP, movido no Reino Unido, segue em andamento. A primeira fase, que avalia se a mineradora é responsável pelo desastre, já foi concluída. A decisão da Justiça britânica deve sair nos próximos meses. Se a culpa da empresa for confirmada, a segunda fase — que vai definir os valores das indenizações — está marcada para outubro de 2026.
BHP se mantém em silêncio
Apesar de toda a movimentação, a BHP não se pronunciou até o momento sobre o afastamento de Goodhead nem sobre os desdobramentos do processo.