Em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão matou 19 pessoas, devastou comunidades e se tornou o maior desastre ambiental da história do Brasil.
O início de uma tragédia anunciada
Às 16h20 do dia 5 de novembro de 2015, o Brasil assistiu ao colapso da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton. O rompimento despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério sobre o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), matando 19 pessoas, deixando mais de 600 desabrigadas e 1,2 milhão sem acesso à água potável.
Foi o maior desastre socioambiental da história do país, atingindo cerca de 50 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo e contaminando toda a bacia do rio Doce.
“A barragem rompeu”: o chamado que mudou tudo na visão de Roberto Verona
Naquele 5 de novembro, eu estava em Ouro Preto, cobrindo o Fórum das Letras como repórter do Território Notícias e da Rádio Mariana. O celular não parava de tocar. Prestes a entrevistar o jornalista e escritor Onamir Dias de Paiva, atendi a ligação de Chico Esquarcio, diretor da rádio, que me deu a notícia bomba: uma barragem havia se rompido em Bento Rodrigues.
Peguei a motocicleta e desci rumo a Mariana. Ao chegar ao distrito, fui impedido de seguir pela Polícia Militar. O cenário era estarrecedor. O local estava irreconhecível até onde consegui observar. Voltei para acompanhar as movimentações no Hospital Monsenhor Horta, onde todos temiam centenas de vítimas.
As agências de notícias, nacionais e internacionais, ligavam sem parar em busca de informações. Nem mesmo a Samarco sabia a real dimensão do desastre.



“O cenário era estarrecedor. O distrito era irreconhecível. As pessoas estavam em choque.”
A solidariedade que tomou conta de Mariana
Nas primeiras horas, a prefeitura montou uma grande estrutura na Arena Mariana para acolher os desabrigados. Colchões foram espalhados pelo chão da quadra, e voluntários começaram a chegar de todas as partes. O Brasil inteiro se mobilizou para arrecadar donativos — água, alimentos, roupas, produtos de higiene — que não paravam de chegar.



Enquanto isso, a Samarco reservou hotéis e pousadas para abrigar as famílias atingidas. As ruas e recepções do centro histórico de Mariana foram tomadas por vítimas do desastre, visitadas por psicólogos, assistentes sociais, médicos e voluntários.
A Defesa Civil estadual centralizou o comando das operações no Centro Vocacional Tecnológico (CVT), onde uma lista de desaparecidos era constantemente atualizada e exposta nos corredores — cada nome riscado era uma dor compartilhada.

Os primeiros corpos começaram a ser encontrados, e a cada identificação, o clima de comoção tomava conta. Jornalistas, socorristas e voluntários se emocionavam diante do sofrimento das famílias.
A coletiva que marcou a história
No dia 17 de novembro de 2015, uma coletiva de imprensa reuniu dezenas de veículos nacionais e internacionais na área industrial da Samarco. Foi quando o jornalista Roberto Verona, em tom firme e direto, fez a pergunta que ecoou pelo país:
“ A Samarco vai pedir desculpa por esse acidente, porque várias cidades foram afetadas e a Samarco não se posicionou oficialmente para pedir desculpa a essa população ?”

A resposta veio do diretor de Operações e Infraestrutura da empresa, Kleber Terra, e causou indignação:
“Não é o caso de pedir desculpas à população. Ainda não é hora de discutir os efeitos de médio e longo prazo.”
A declaração teve repercussão imediata e negativa, simbolizando o distanciamento da empresa diante da tragédia.
Meses depois, em agosto de 2016, os CEO’s da Vale, BHP e Samarco finalmente pediram desculpas públicas às populações atingidas.
Vozes que não se calam
Em meio à dor, moradores, ativistas e pesquisadores fundaram o coletivo “Um Minuto de Sirene”, nome que denuncia o fato de que nenhuma sirene tocou para alertar os moradores de Bento Rodrigues.

Desde então, todo dia 5 de cada mês, o grupo se reúne na Praça da Sé, em Mariana, para soar a sirene que poderia ter salvado vidas.
Em fevereiro de 2016, nasceu também o jornal “A Sirene”, fruto da parceria entre atingidos e estudantes da UFOP, com o objetivo de preservar a memória e dar voz às famílias que lutam por reparação e justiça.


A lenta reconstrução de vidas
Os reassentamentos demoraram anos.
O terreno conhecido como Lavoura foi escolhido para reerguer Bento Rodrigues, enquanto o subdistrito de Paracatu de Baixo será reconstruído na área chamada Lucila.


Mesmo assim, sete anos e meio após a tragédia, apenas quatro famílias haviam recebido as chaves de suas novas casas. A Fundação Renova, criada para coordenar a reparação, passou a ser alvo de críticas do Ministério Público de Minas Gerais, que chegou a pedir sua extinção por falta de autonomia frente às mineradoras.
A luta por justiça
A tragédia também ganhou dimensão internacional.
Em 2018, milhares de atingidos ingressaram com uma ação civil pública contra a BHP na Justiça inglesa, pedindo mais de R$ 260 bilhões em indenizações.
A primeira fase do julgamento foi concluída em março de 2025, mas a sentença final ainda não foi publicada.

O novo acordo de reparação
Após anos de impasse, o Governo Federal e as empresas envolvidas assinaram, em 25 de outubro de 2024, um novo acordo de repactuação para corrigir falhas dos primeiros pactos de reparação.
Pelo novo termo, Vale, BHP e Samarco deverão pagar R$ 167 bilhões ao longo de 20 anos. O valor será destinado a ações de reparação social, ambiental, econômica e cultural, com repasses diretos aos 49 municípios atingidos, além de investimentos em educação, infraestrutura e comunidades tradicionais e indígenas.
Dez anos depois: o vazio permanece
Dez anos após o rompimento, Mariana ainda tenta se reconstruir.
As águas do rio Doce seguem contaminadas, e as lembranças da lama continuam vivas em cada morador que perdeu casa, terra e história.
“O tempo passou, mas o vazio continua”, desabafa uma moradora de Bento Rodrigues.
Em cada sirene que soa no dia 5, Mariana reafirma sua promessa: não deixar o país esquecer o dia em que a lama cobriu vidas, esperanças e verdades.
Linha do Tempo da Tragédia de Mariana (2015–2025)
2015 — Rompimento da barragem de Fundão em 5 de novembro. 19 mortos, centenas de desabrigados e destruição de Bento Rodrigues.
2016 — Criação do jornal A Sirene e da Fundação Renova. Primeiro termo de reparação firmado (R$ 20 bilhões).
2017–2018 — Início dos projetos de reassentamento; famílias votam por novos terrenos.
2018 — Ação civil pública movida contra a BHP Billiton na Justiça do Reino Unido.
2019–2020 — Obras dos reassentamentos avançam lentamente; Rio Doce segue poluído.
2021–2023 — Críticas à Fundação Renova se intensificam; MPMG pede sua extinção.
2024 — Governo Federal assina novo acordo de repactuação: R$ 167 bilhões em reparações.
2025 — Julgamento internacional da BHP chega à fase final; tragédia completa 10 anos ainda sem plena reparação.
Nota da Samarco pelos 10 anos da tragédia
Neste 5 de novembro, o rompimento da barragem de Fundão completa 10 anos.
Esse marco jamais será esquecido e tem guiado nossa atuação e decisões diárias, em direção a um jeito diferente de minerar, mais seguro e mais sustentável.
Reafirmamos nosso compromisso em assegurar uma reparação integral e definitiva. Estamos cumprindo rigorosamente o Novo Acordo do Rio Doce, homologado em novembro de 2024 pelo STF. O Acordo dá mais transparência e segurança jurídica à reparação ao determinar, com precisão, o que deve ser feito, por quem, em que prazo e com qual recurso.
Concluímos os novos distritos ao finalizar 100% das obras iniciadas antes do Novo Acordo. Implementamos o Programa de Indenização Definitiva (PID) que, de forma simplificada, pagou 242 mil pessoas até 30 de setembro de 2025. Prosseguimos com as ações ambientais de forma ininterrupta e aumentamos a área de reflorestamento e nascentes protegidas ao longo da bacia do Rio Doce. Além disso, conforme previsto no Acordo, a empresa concluiu a extinção da Fundação Renova, com autorização do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Seguimos aprendendo com o passado e avançando na reparação. Buscamos construir uma mineração que promove desenvolvimento pautada pela segurança das pessoas e das operações, pela escuta ativa e pelo diálogo.
Confira neste link um balanço do primeiro ano do Novo Acordo do Rio Doce: https://www.samarco.com/reparacao











