Por @equipeGN
Oficina reuniu comunidade, pesquisadores e organizações da sociedade civil e indicou próximos passos para a pesquisa no Rio Doce
O Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) promoveu recentemente uma oficina com o tema “Justiça e Sociobiodiversidade no Rio Doce”, para discutir os impactos dez anos após o rompimento da barragem de Fundão em Mariana, Minas Gerais, considerada a maior tragédia ambiental do país; e identificar princípios e estratégias para a atuação do INMA nos territórios impactados. A barragem rompeu no dia 5 de novembro de 2015 e matou 19 pessoas. Ao todo, 41 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo foram atingidas por 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério. Entre os povos atingidos estão três reservas indígenas, comunidades quilombolas e pescadores artesanais.
“Dez anos após o rompimento da barragem de Fundão, o Rio Doce e o litoral norte Capixaba permanecem marcados por impactos sociais e culturais, ambientais e econômicos, com comunidades tradicionais e povos indígenas enfrentando violações de direitos e ameaças à sua subsistência. A repactuação do Rio Doce, conduzida pela Justiça Federal, busca revisar os mecanismos de reparação, superando falhas e ampliando a participação social, a justiça e a efetividade”, explica o pesquisador do INMA, Leopoldo Cavaleri Gerhardinger.
Importância da realização de pesquisas
O evento destacou a importância de pesquisas de apoio à dinamização das Economias da Sociobiodiversidade — geração de renda com conservação, identidade e justiça social. A oficina reuniu pesquisadores da área socioambiental, lideranças comunitárias de populações tradicionais, organizações não-governamentais e Defensoria Pública.
Os objetivos foram o compartilhamento de experiências em relação à justiça socioambiental no Rio Doce; a identificação de desafios e estratégias para as pesquisas colaborativas no contexto das mudanças climáticas e a própria compreensão institucional do conceito de sociobiodiversidade e sua relevância para a formulação de políticas públicas. Durante a oficina, foram apresentados levantamentos sobre os impactos da tragédia, do trabalho de organizações de suporte em Direitos Humanos e Ambientais e de estudos de caso e relatos como de associações de pescadores.
Perca da pesca
“Perdemos toda a nossa atividade de pesca, nosso sustento, nossa renda e nossa saúde. O que estamos enfrentando até hoje são momentos muito difíceis. O impacto chegou no nosso manguezal. Um povo tradicional que sempre teve na pesca o seu único meio de vida e, de repente, teve que mudar, não tendo outra opção. E não tivemos apoio algum”, relatou Kelly de Sena Monteiro, presidente da Associação de Pescadores, Catadores de Caranguejo, Aquicultores, Moradores e Assemelhados de Campo Grande, no município de São Mateus, Espírito Santo.
Segundo dados do Ministério Público Federal, depois do desastre foram coletadas 14 toneladas de peixes mortos nos Rios Doce e Carmo. “Foi um impacto emocional muito grande que nós tivemos porque não estávamos preparados. Foi um impacto social e foi um impacto para o meio ambiente, porque o que nós preservávamos hoje está destruído e não temos como preservar mais”, completou Adeci de Sena, vice-presidente da Associação.
Pesquisa colaborativa
“Do encontro saíram princípios para a pesquisa colaborativa do INMA no Rio Doce nos temas ligados à Sociobiodiversidade”, indicou Juliana Hipólito, pesquisadora do INMA. O ponto de partida é a escuta ativa e o protagonismo das comunidades, reconhecendo direitos, experiências e prioridades locais.
“A atuação deve seguir a justiça procedimental, com participação livre, informada e contínua, diversidade de vozes e equidade entre gêneros e gerações. O conhecimento deve ser construído em colaboração, unindo ciência cidadã e diálogo de saberes, com dados abertos, linguagem acessível e devolutivas regulares para as comunidades participantes. Tudo deve ser atravessado pelo princípio do cuidado: não causar dano, não revitimizar e considerar a saúde integral, incluindo apoio psicossocial. A presença do INMA deve ser enraizada no território, com memória, responsabilidade e continuidade, ancorada em evidências e nos direitos humanos e ambientais”, explicou Leopoldo.
“Os caminhos apontados pelos participantes durante a oficina serão agora compartilhados com os demais pesquisadores do INMA e participantes da oficina, visando estabelecer os próximos passos de ação conjunta”, completou a pesquisadora do Instituto Alyne Gonçalves.











