Apesar do aporte bilionário da reparação, ouro-pretanos e marianenses terão que pagar pedágio para acessar Belo Horizonte e Ponte Nova
Verba da reparação de Mariana financia concessão com pedágio para atingidos
O Governo de Minas realizou nesta quinta-feira (18/9), na Bolsa de Valores (B3), em São Paulo, o leilão do lote rodoviário Ouro Preto–Mariana, conhecido como Via Liberdade. O projeto será viabilizado com R$ 2 bilhões oriundos do Novo Acordo de Mariana, assinado em 2024, mas trará um impacto direto aos moradores da região: o pagamento de pedágio para circular em rodovias que ligam as cidades atingidas à capital mineira e à Zona da Mata.
O Consórcio Rota da Liberdade venceu o certame com proposta de R$ 1,7 bilhão de contraprestação, o que representa deságio de 13,2%. Ao todo, os investimentos chegam a quase R$ 5 bilhões, com prazo de concessão de 30 anos em 190 km de rodovias.
População paga pela reparação
Apesar do caráter de “reparação”, o projeto tem gerado críticas entre moradores de Ouro Preto e Mariana, que passarão a pagar pedágio sempre que se deslocarem para Belo Horizonte ou cidades vizinhas, como Ponte Nova. Para muitos, o uso dos recursos indenizatórios em uma concessão com cobrança de tarifa transfere para a própria população afetada o custo de circular em seu território.
O governador Romeu Zema defendeu a iniciativa, afirmando que a obra trará desenvolvimento econômico e turístico.
— Minas cresce acima da média nacional. Queremos que a reparação de Mariana seja a mais justa possível, com benefícios diretos aos mineiros — declarou.
Melhorias e contrapartidas
Entre as obras previstas estão a duplicação de 78,7 km, construção do Contorno de Cachoeira do Campo, implantação de área de escape na Serra da Santa e um ponto de parada para caminhoneiros em Amarantina. O governo também promete reduzir em até 40 minutos o tempo de viagem entre Nova Lima e Rio Casca.
O pedágio, porém, só será cobrado após a entrega das primeiras obras de reabilitação de pista e sinalização.
Reparação contestada
O uso dos recursos da repactuação no projeto levanta questionamentos sobre a lógica da reparação: em vez de investimentos gratuitos e diretos em mobilidade para os atingidos, os moradores terão que arcar com tarifas para usufruir de obras financiadas com o dinheiro da tragédia de 2015, que deixou 19 mortos e impactos sociais e ambientais profundos.